03 de Maio de 2024

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Arte Xávega

 

Sendo uma atividade antiga, tem vindo a sofrer evoluções com o tempo, mas continua a ser uma verdadeira Arte no seu todo – barco, redes, trabalho, pescadores – representando, para além de uma forma de vida, um atrativo turístico e um magnífico quadro ou espetáculo vivo para quem procura a Praia de Mira.

É uma forma tradicional de pesca em que, ainda hoje, os pescadores organizados por companhas, enfrentam a rebentação das ondas e vão ao mar, num peculiar barco de madeira em forma de meia-lua, para depois lançarem as enormes, mas bem trabalhadas redes, cercando para o areal os cardumes.

Para puxar as redes para a praia contam com a ajuda de tratores, que vieram substituir as possantes juntas de bois, que durante décadas ajudaram os pescadores a puxar barcos e redes. De seguida, dá-se o espetáculo da abertura do saco da rede, da descoberta da pescaria realizada e procede-se a uma minuciosa escolha das diversas qualidades de peixe, que saltam e escorregam das mãos conhecedoras dos pescadores para as canastras da lota.

Para este tipo de pesca, diferenciam-se duas épocas no ano: de novembro a março, altura em que os homens, devido ao alterado estado do mar, ficam em terra a preparar as redes com a sua própria técnica; e, de abril a outubro, quando se juntam cerca de 15 homens, alguns dos quais vão ao mar (normalmente 8), enquanto outros ficam em terra a estender as redes para o próximo lanço, a escolher o peixe do lanço anterior, entre outras tarefas.

A Praia de Mira é hoje um dos principais polos de prática deste tipo de pesca. Já fortemente ameaçada na sua preservação e longevidade, a pesca por arte-xávega encontra nesta praia uma excecional importância e dimensão, quer pelo número de empresas e embarcações, quer pela quantidade de recursos humanos afetos e pelo impacto socioeconómico na economia local.

Em Mira, a pesca desenvolve-se na centralidade da mancha urbana da localidade, presenteando diariamente os visitantes com cenas únicas de uma vitalidade e dinâmica ímpares. Ao invés de outras praias em que esta prática é “empurrada” para áreas mais desertas do areal, em Mira, a pesca convive em harmonia com o turista, numa simbiose que muito tem contribuído para a preservação de ambas as realidades.