18 de Abril de 2024

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Mira comemorou dia internacional dos monumentos e sítios com homenagem ao Visconde da Corujeira

O Município de Mira integrou o programa de Comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (domingo, 18 de abril) com uma homenagem ao Visconde da Corujeira, através da reposição de um busto em bronze, no jardim municipal de Mira (recorde-se que este busto tinha sido furtado em 2011).

O Visconde da Corujeira foi uma figura que marcou a sociedade mirense do seu tempo e cuja memória ainda hoje perdura, de forma gratificante, na identidade coletiva de Mira.

Reinaldo Augusto Moreira da Costa e Silva nasceu em Mira a 6 de outubro de 1869, filho de Francisco Moreira da Costa Silva (1829-1909 - formado em Direito na Universidade de Coimbra e que chegou a ocupar o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Mira) e de Dona Belarmina Toscano Ribeiro Pinheiro Sanches Moreira da Costa e Silva (1839-1918), natural da Pocariça.

Não tendo finalizado estudos superiores, assumiu a administração dos bens da família, ocupando-se da Quinta da Corujeira, Quinta do Cercado, Quinta da Pocariça, Quinta do Cabeço e Quinta e casa de Mira, entre outros, tendo figurado na lista dos 40 maiores contribuintes do Concelho de Mira.

Ainda jovem, casou na Igreja Paroquial de Mira, no dia 11 de fevereiro de 1889, com Maria Evangelina de Pimentel Calisto (1866-1942) filha de Manuel Maria Pimentel Calisto e de Henriqueta de Jesus Calisto.

Deste casamento nasceu, em junho de 1893, a primeira filha dos Viscondes, Flávia. Volvidos dois anos nasceu Aquiles António e, no decorrer de 1897, Fernando. Em 1900, nasceu José Reinaldo e por fim, no ano de 1911, nasceu o último filho do casal, Francisco.

O título de Visconde da Corujeira foi-lhe concedido pelo Rei D. Carlos, a 20 de setembro de 1890 e publicado no Diário de Governo de 23 de setembro desse mesmo ano.

No decorrer do ano de 1908, o Visconde da Corujeira assumiu a Vice-presidência da Câmara Municipal de Mira.

Já mais tarde, mesmo não desempenhando um cargo político, defendeu os interesses do seu Concelho. Tal se pode constatar na ata da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Mira, de 23 de julho de 1927, fl.67v, em que o Presidente da Comissão Administrativa “(…) acompanhado do vogal Senhor Dr. Pinho Terrível, do chefe de secretaria da Câmara, do secretário da Administração (…) e do Senhor Reinaldo Augusto Moreira (…)”  apresentou ao Ministro da Justiça “(…) uma representação pedindo que fosse restaurada a comarca de Vagos, mas passando a sua sede para a vila de Mira (…)

Ainda hoje é figura de grande consideração e prestígio em Mira, quer pela posição social que ocupou, quer pelo bom trato e afeto para com toda a população em geral.

Às suas Quintas vieram homens poderosos do Reino, com quem conviveu de perto. Os seus cavalos impressionavam toda a região. Assim nos retrata Maia Alcoforado, que em 1946 publicou na sua obra Paisagem do Dia Ausente, na crónica “Flor Verde nas Dunas”: (….) O Visconde, da boémia doirada, das parelhas de cavalos que assombraram Coimbra, as suas damas e os seus peraltas e os que tinham fumaças de gente graúda, da casa que foi hospedaria da fidalgagem da época e onde se aboletaram, aos montões, políticos de toda a raça – tendo à cabeça Afonso Costa (…)

É relembrado como homem culto, bondoso, respeitador e querido por todos. Albergava e permitia nas suas Quintas ciganos, pobres e todos os que necessitavam, abrindo as portas, em dias de romaria de São Tomé, aos romeiros e seus animais para que pudessem aceder à fonte e sombras frondosas da sua quinta, em Mira. Para exemplificar esta faceta de ligação ao povo mirense poder-se-á referir uma solicitação, manuscrita pelo próprio Visconde, no dia 17 de agosto de 1939, e que se encontra no Arquivo Municipal:

(…) “Parece que o cantoneiro da estrada da Lâgoa multou hontem o Moysés Carreira da Corujeira, o qual me veio pedir para interceder perante o meu Amigo no sentido d’isso ficar sem efeito. O cantoneiro cumpriu com o seu dever, mas como o Carreira me presta alguns serviços na quinta, desejava servi-lo, motivo porque pedia ao meu Amigo o favor de me dizer se alguma coisa poderá fazer-se e, no caso de não poder ser, obsequeia-me dizendo a quanto isso poderá ir, pois queria pagar do meu bolso.

Com os meus agradecimentos antecipados, seu amº, mtº obgº

Visconde da Corujeira”

Reinaldo Augusto Moreira - Visconde da Corujeira veio a falecer na sua residência, aos 83 anos, às 17 horas, do dia 22 de julho de 1953, devido a uma hemorragia cerebral.

Deixou na memória coletiva a lembrança de um homem humano, capaz de mandar pintar um quadro a óleo com a figura de uma mendiga da vila, conhecida por “Maria da Água” ou de pagar a multa de um trabalhador que lhe prestava serviços na quinta. Mas também digno e fidalgo, reconhecido pelas melhores relações sociais da época. Ainda hoje, o centro da Vila de Mira e a sua feição urbana, reflete a essência da Quinta do Visconde da Corujeira, pois todo o Jardim Municipal e o próprio edifício, que foi a casa de toda a sua família, são património municipal.

A 5 de Julho de 1997, para homenagear a figura emblemática do Visconde da Corujeira, foram colocados no município de Mira dois bustos em bronze, (um no Jardim Visconde da Corujeira, em Mira, e o outro no centro da localidade da Corujeira), obra da autoria do escultor Alves André.

Em outubro de 2011, foi roubado o busto que estava no Jardim Municipal, ao lado do edifício que anteriormente tinha sido residência do Visconde e que hoje acolhe os serviços do tribunal.

Com o objetivo de condignamente perpetuar a memória do ilustre benemérito em terras de Mira, o Município de Mira tem agora a honra de poder repor um novo busto em bronze, realizado pelo mesmo autor, o escultor Alves André, num justo reconhecimento a uma das figuras de destaque do Concelho de Mira nos séculos XIX e XX.

Ao realizar esta singela homenagem e trazer o nome e as memórias do Visconde da Corujeira para a atualidade, nesta data específica, o Município associa-se, simbolicamente, ao espirito das comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, pretendendo aumentar a consciência pública relativamente à diversidade do património e aos esforços necessários para o conservar e proteger, permitindo ainda chamar a atenção para a sua vulnerabilidade. Representando um momento anual de celebração da diversidade patrimonial, pretende-se que o dia 18 de Abril funcione como um marco comemorativo do património local e nacional, mas que celebre, também, a solidariedade internacional em torno da salvaguarda e da valorização do património de todo o mundo.